segunda-feira, 23 de novembro de 2015

NADA DE NOVO

Arnold Toynbee, historiador britânico (1889-1975), ficou famoso com uma obra de história universal em que analisa os confrontos entre civilizações como os maiores geradores de conflitos e guerras. Pôs em segundo plano os problemas gerados pelos nacionalismos, embora eles tenham nos dado a segunda guerra mundial.
Finda essa guerra, Toynbee escreveu dois livros a partir da pergunta: e agora, o que vai ser da humanidade? Viverá o conflito do capitalismo versus comunismo, como parecia apontar o cenário mundial? Pois bem, Toynbee, com base em seu princípio, previu que a União Soviética iria se desfazer, porque comunismo e capitalismo não são duas civilizações, são apenas duas ideologias. Como se viu, acertou em cheio na previsão.
Toynbee fez outra previsão ainda mais inacreditável na época em que escreveu, em plena Guerra Fria. A humanidade voltaria a ter uma guerra de civilizações entre o islamismo e o cristianismo. Em sua análise, islamismo de um lado e cristianismo do outro conseguem mobilizar populações inteiras, acima das fronteiras nacionais. Um e outro podem parecer debilitados, mas, havendo uma crise, estarão prontos para o confronto. As duas civilizações pretendem se tornar universais, uma assentada no oriente e outra no ocidente e não arredam pé dos próprios valores. Em nomes deles, irão até mesmo para a guerra total, com um objetivo radical: exterminar o inimigo.

Isso tudo, em detalhes, está lá em Toynbee, numa obra de 1950. Não há nada de novo debaixo do sol...
Read more

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

RESTRIÇÃO MENTAL

Meu professor de História da Igreja dava o seguinte exemplo para explicar concretamente o que significa restrição mental:
“Chega um grupo de soldados armados, que batem com força na porta de um convento, à procura de um fugitivo. Sai de dentro um frade, assustado, e o capitão pergunta, com toda a força de sua autoridade: - ‘Fulano entrou por aqui?’ O frade sabe que o fugitivo está refugiado no convento. Enfia então a mão direita por dentro da manga do braço esquerdo e responde, com toda candura: ‘Não, por aqui não entrou ninguém’. Os soldados vão embora e o frade respira aliviado. Ele não mentiu, o que ele quis dizer é que ninguém tinha entrado por sua manga. O capitão é que interpretou errado”.
Outro exemplo. Chega uma vizinha e pergunta: ‘Tem ovos em casa?’ A dona da casa responde: ‘Não, não tenho’, enquanto pensa ‘não tenho para te dar’.
Na Igreja Católica houve durante muito tempo um debate sobre se esse tipo de escapatória devia ser considerado mentira ou não. Uma corrente afirmava que a restrição mental era não só mentira como uma rematada hipocrisia. Outra corrente a considerava um recurso a que se podia recorrer para fugir de algum perigo: não era uma mentira, mas uma “epiqueia”. Parece que as duas posições continuam tendo defensores.

O presidente da Câmara dos deputados deve estar bem informado nesse assunto, a julgar por sua linha de defesa: ‘Não menti, nunca tive conta na Suíça’, enquanto pensa: “conta em meu nome, eu quero dizer’. Como o frade e a dona dos ovos.
Read more