tag:blogger.com,1999:blog-82692788688593395032024-03-08T04:01:11.819-08:00José PozenatoBF2 Tecnologiahttp://www.blogger.com/profile/02753925208725012508noreply@blogger.comBlogger45125tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-23091446367021254562015-12-28T07:01:00.003-08:002015-12-28T07:02:53.523-08:00ESTAÇÕES<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nesta virada
de ano, tem-se a impressão de que as estações enlouqueceram. As chuvas,
principalmente, não cansam de inundar o Sul do Brasil, mais os países vizinhos.
São as chuvas de verão, poderia alguém dizer, repetindo uma frase feita. Mas a marca
das chuvas de verão, e por isso elas passaram a servir de metáfora do efêmero,
era o de serem passageiras. E acontece também que as mesmas enxurradas,
arrastando casas, carros e encostas, estão assustando a Inglaterra. E, a não
ser que o planeta tenha enlouquecido de vez, na Inglaterra agora é inverno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">De Caxias do
sul já se disse que a cidade consegue ter as quatro estações – as antigas:
primavera, verão, outono e inverno – no mesmo dia. Também se disse que a cidade
tem, de fato, apenas duas estações: o inverno e a estação rodoviária. Mas nada
disso mais está valendo. Temos em definitivo apenas uma estação: a das chuvas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Desconfio
que até um pequeno poema que fiz há tempo, com o título de “Estações”, tenha
também perdido a validade. Em todo o caso vai um pedaço dele aqui, como um
salvado da enchente: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“estações <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">do dia, no
giro das horas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">do ano, no
giro dos dias <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">da vida, no
giro dos anos <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">estações <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">de partida e
de chegada <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">estações <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">da flor, do
fruto</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">estações”.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-86804982513668756292015-12-21T09:47:00.000-08:002015-12-21T09:47:00.631-08:00AFINIDADES<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Quando saiu meu romance <i>O quatrilho</i>, um crítico português o comparou, na forma e no tema,
com o romance do escritor italiano Cesare Pavese, nascido em 1908. Obra e autor
que eu nunca havia lido. Foi a partir daí que fui à sua procura e, de fato,
encontrei pontos de afinidade com ele. Também ele fez poesia, também ele foi
professor de Literatura e também ele não tinha estômago para suportar
ditaduras...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um livro de
Pavese, <i>Lavorare stanca</i> (em
português: <i>Trabalhar cansa</i>) sofreu
com a censura fascista para ser editado: o título já era visto como uma
provocação ao regime. Um outro poema dele, <i>Il
dio caprone</i> (“o deus bode”) – que parece ter sido associado com a figura de
Mussolini, talvez não por acaso – custou-lhe anos de isolamento na Calábria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas censurar
os poetas não foi só obra do fascismo ou da ditadura militar que tivemos no
Brasil. Um poeta russo, Osip Mandelstam, foi condenado a trabalhos forçados em
Vladivostok, na Sibéria, por causa de uns versos em que fazia humor com os
bigodões, o uniforme, os gritos e as botas lustrosas de Stalin. Foram dezesseis
versos que significaram sua sentença de morte: morreu na Sibéria de “paralisia
cardíaca”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Cesare
Pavese, ao menos, pôde ainda dar o troco com estes versos: “Privando-me do mar,
do espaço para andar e voar / o que vocês conseguiram? Cálculo brilhante: /
vocês não conseguiram extirpar os lábios que se movem”. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Afinidades
existem sempre entre os poetas. Como existem entre os ditadores, não importa a
bandeira que ergam.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-15289233279822865942015-12-14T10:27:00.001-08:002015-12-14T10:27:25.035-08:00140 ANOS DEPOIS<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Depois de 140 anos de “coabitação”
cultural, nesta região de imigração italiana, parece claro para todos, ou quase
todos, que as diferenças culturais são um patrimônio que não faz sentido ser
eliminado. Ao contrário, a diferença deve ser cultivada. Onde não há
diferenças, não há também trocas, não há comércio, não há tempero nas relações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Lévi-Strauss,
na última vez em que falou na Unesco sobre políticas culturais, fez questão de
frisar a necessidade da diferença, para que haja saúde social. Chegou a dizer
que a diferença exige até mesmo certo grau de discriminação. Ela só não deve se
manifestar de forma agressiva, ou excludente. Sem esse laivo pejorativo, ela pode
ser base de uma convivência enriquecida pela possibilidade das trocas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Caxias do
Sul, depois de 140 anos, é uma cidade pluricultural: além da cultura do gaúcho,
com a qual o imigrante italiano iniciou o processo de mútuo aprendizado, conta
ela hoje com a contribuição de inúmeras outras fisionomias culturais do Brasil
inteiro, e mais, do mundo inteiro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Será ela no futuro uma cidade sem
rosto, igual a qualquer cidade de seu porte? Certamente não. A identidade nela
criada é tão peculiar que resistirá à incerteza das mudanças. Há nela um
patrimônio gravado tão fundo “na mente e no coração das pessoas”, tanto das que
aí nasceram como das que chegam e aprendem sua história, que ela saberá resistir
à corrosão do tempo. Essa parece ser a melhor herança amealhada, com pertinácia
e coragem, nestes 140 anos de história da imigração.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-22485566985669923662015-12-07T06:52:00.002-08:002015-12-07T06:52:03.780-08:00TAMBÉM...<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lidar com as
palavras parece fácil. Até a gente descobrir que pode não ser tão fácil como
parece. Uma simples mudança de lugar de uma delas, na frase, pode mudar todo o
sentido do que se pretende dizer. É lendo diferentes autores, de diferentes
estilos, de diferentes épocas, até mesmo de línguas diferentes, que se descobre
como é possível armar, com toda sutileza, e com grande economia verbal,
pequenas surpresas. Quem não faz isso, erra sem nem perceber.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para mostrar
isso aos alunos, colocava diante deles, para que vissem alguma diferença de
significado, as seguintes quatro frases, todas com as mesmas palavras: 1) também
a gente anda a pé, 2) a gente também anda a pé, 3) a gente anda também a pé, 4)
a gente anda a pé também.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A
brincadeira consumia às vezes uma aula inteira, dependendo da agilidade da
turma. Se o leitor quiser entrar na roda, vai ver que nenhuma delas coincide
exatamente com o sentido das outras. É a palavrinha “também” – que pode ser advérbio ou
conjunção, é bom estar atento - que põe a bailar as outras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um dia o
professor é quem foi surpreendido. Depois de terminado o exame de cada uma das
sequências, um aluno levantou o dedo, com ar compenetrado, e falou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Professor,
dá para fazer outra montagem com essas palavras. É só transformar o “também”
numa interjeição. Bom, para isso é preciso acrescentar uma vírgula. E fica
melhor colocando um ponto de exclamação no fim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A turma
inteira ficou em suspense. Ele então completou, triunfante:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Também, a
gente anda a pé!<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-751337443805705282015-11-23T06:56:00.002-08:002015-11-23T06:56:48.183-08:00NADA DE NOVO<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Arnold
Toynbee, historiador britânico (1889-1975), ficou famoso com uma obra de
história universal em que analisa os confrontos entre civilizações como os
maiores geradores de conflitos e guerras. Pôs em segundo plano os problemas
gerados pelos nacionalismos, embora eles tenham nos dado a segunda guerra
mundial. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Finda essa
guerra, Toynbee escreveu dois livros a partir da pergunta: e agora, o que vai
ser da humanidade? Viverá o conflito do capitalismo versus comunismo, como
parecia apontar o cenário mundial? Pois bem, Toynbee, com base em seu
princípio, previu que a União Soviética iria se desfazer, porque comunismo e
capitalismo não são duas civilizações, são apenas duas ideologias. Como se viu,
acertou em cheio na previsão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Toynbee fez
outra previsão ainda mais inacreditável na época em que escreveu, em plena
Guerra Fria. A humanidade voltaria a ter uma guerra de civilizações entre o
islamismo e o cristianismo. Em sua análise, islamismo de um lado e cristianismo
do outro conseguem mobilizar populações inteiras, acima das fronteiras
nacionais. Um e outro podem parecer debilitados, mas, havendo uma crise,
estarão prontos para o confronto. As duas civilizações pretendem se tornar
universais, uma assentada no oriente e outra no ocidente e não arredam pé dos
próprios valores. Em nomes deles, irão até mesmo para a guerra total, com um
objetivo radical: exterminar o inimigo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Isso tudo,
em detalhes, está lá em Toynbee, numa obra de 1950. Não há nada de novo debaixo
do sol...<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-69131498926923072312015-11-09T07:28:00.001-08:002015-11-09T07:28:01.074-08:00RESTRIÇÃO MENTAL<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Meu
professor de História da Igreja dava o seguinte exemplo para explicar
concretamente o que significa restrição mental:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Chega um
grupo de soldados armados, que batem com força na porta de um convento, à
procura de um fugitivo. Sai de dentro um frade, assustado, e o capitão
pergunta, com toda a força de sua autoridade: - ‘Fulano entrou por aqui?’ O
frade sabe que o fugitivo está refugiado no convento. Enfia então a mão direita
por dentro da manga do braço esquerdo e responde, com toda candura: ‘Não, por
aqui não entrou ninguém’. Os soldados vão embora e o frade respira aliviado.
Ele não mentiu, o que ele quis dizer é que ninguém tinha entrado por sua manga.
O capitão é que interpretou errado”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Outro
exemplo. Chega uma vizinha e pergunta: ‘Tem ovos em casa?’ A dona da casa responde:
‘Não, não tenho’, enquanto pensa ‘não tenho para te dar’.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Na Igreja
Católica houve durante muito tempo um debate sobre se esse tipo de escapatória
devia ser considerado mentira ou não. Uma corrente afirmava que a restrição
mental era não só mentira como uma rematada hipocrisia. Outra corrente a
considerava um recurso a que se podia recorrer para fugir de algum perigo: não
era uma mentira, mas uma “epiqueia”. Parece que as duas posições continuam
tendo defensores.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O presidente
da Câmara dos deputados deve estar bem informado nesse assunto, a julgar por
sua linha de defesa: ‘Não menti, nunca tive conta na Suíça’, enquanto pensa:
“conta em meu nome, eu quero dizer’. Como o frade e a dona dos ovos.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-35749714115430279882015-10-26T10:34:00.001-07:002015-10-26T10:34:03.573-07:00DIVERSIDADE LINGUÍSTICA<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A Casa das
Etnias estará realizando neste fim de mês um Seminário da Diversidade
Linguística. A iniciativa é sinal de quanto os tempos mudaram, desde a época em
que a “unidade nacional” exigia também a “unidade de língua”. Até nomes de
lugares que remetiam a alguma língua diferente do padrão nacionalista, tiveram
de ser mudados. E não só Nova Milano e Nova Roma, que tiveram seus nomes
trocados por Emboabas e Guaicurus. Até Monte Belo, na época distrito de Bento
Gonçalves – descobri isso há pouco! – teve que engolir por alguns anos o nome
de Caturetã! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foi
necessária uma Convenção da Unesco, promulgada em 2005, para que os países
membros, aí incluído o Brasil, passassem de uma política de “tolerância” para
uma politica “propositiva” com relação à diversidade cultural, em especial a
diversidade linguística. No embalo dessa tomada de posição é que propus, em
2006, o slogan “A alegria de estarmos juntos” para a nossa Festa da Uva. E foi
nessa nova onda que o Ministério da Cultura brasileiro criou um programa
especial para identificar, resgatar e
reconhecer como patrimônio cultural as línguas de imigração. É nesse horizonte
que temos hoje o Talian reconhecido como língua a ser preservada e cultivada,
depois de ter sido objeto de escárnio e de exclusão social e política. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Do ato
oficial até a tomada de posição da sociedade, inclusive a detentora desse
patrimônio, muitos passos ainda precisam ser dados. O Seminário agora
programado pode sinalizar rumos futuros.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-11219754587910697962015-10-20T07:54:00.002-07:002015-10-20T07:58:33.430-07:00NO DETALHE<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">As
narrativas históricas, até por questão de método, acostumaram-se - e nos acostumaram – com visões amplas, em
perspectiva, quase beirando a abstração científica. Para preencher o espaço
concreto da percepção é que surgiram as narrativas de ficção, sem maior compromisso
com a “verdade histórica”, pondo ênfase na “semelhança com a realidade”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas é
possível se fazer ciência sobre o passado sem perder contato com a experiência
real, quase física, das pessoas que viveram nele. É o que podemos encontrar,
com detalhes, no livro “Estrada Rio Branco: o caminho da emancipação”, de Luiz
E. Brambatti, lançado, em 2ª edição, na
última Feira do Livro. Percorrendo suas
páginas, ilustradas com fotografias antigas e atuais, tem-se a impressão de se
estar andando entre pedras e barro, montanha acima, passando por Nova Palmira, por
uma estrada “de trinta palmos de largura [...] terminando no Campo dos
Bugres” (p.56). Ela ligou a colônia Caxias
com o mercado do Caí e de Porto Alegre, além de estreitar uma relação de trocas
comerciais e culturais com os Campos de Cima da Serra.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">De um Motter,
antigo morador da beira dessa estrada, ouvi que “Nova Palmira era uma vila que tinha tudo,
até cadeia”. Quando menino, seu pai enchia a carreta de produtos para vender em
Caxias. Subiam a “estrada da Terceira Légua”, que é a mesma Rio Branco, com um
detalhe: tinham que sair no começo da noite para chegar em Caxias de manhã. O
livro de Brambatti resgata toda essa trajetória, num convite para ser visitada.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-18183766750285166892015-10-06T07:38:00.000-07:002015-10-06T07:38:29.373-07:00“DANOS COLATERAIS”<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Depois de os
ianques bombardearem um hospital no Afeganistão – atendido pela organização
humanitária Médicos sem Fronteiras, deixando mortos enfermeiros e pacientes,
entre eles três ou quatro crianças – o porta-voz do exército americano declarou
que se tratava apenas de um caso de “danos colaterais”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Danos
colaterais” é o que mais tem marcado as invasões justiceiras dos Estados
Unidos. Outro dia circulou pelas agências de notícias, em tom de escândalo, que
o Estado Islâmico “já” matou mais de três mil pessoas. E quantos civis os
Estados Unidos mataram só na invasão do Iraque, baseada num pretexto sem
fundamento? Quase cem mil. E não me lembro de que esse número tenha sido martelado
na mídia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Cada
monumento antigo demolido pelos islamitas ganha destaque. Um destaque nunca
feito quando os aviões americanos destruíram quase todo o imenso patrimônio
cultural de Bagdá. Isso também foram “apenas danos colaterais”, justificáveis
pela missão dos que se investem em salvadores do mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esse meu
sentimento de repúdio não é de hoje. Revendo as gavetas, encontrei um poema que
escrevi em 1963, nunca publicado, quando os americanos diziam nos ajudar com a
“Aliança para o Progresso”. O poema começa assim:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eu vou falar a verdade / do americano
do norte. /Que ninguém ache meu verso / pesado ou muito forte. // Eles são
muito sabidos / para fazer tapeação / se fingem de inocentes / e devoram sem
perdão.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Metade de um século depois, minha
opinião continua exatamente a mesma.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-21257524654740551532015-09-28T12:42:00.000-07:002015-09-28T12:42:10.679-07:00ENCHENTE DE SÃO MIGUEL (conto)<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Contam que é
assim, eu não sei se é.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Uma vez o padroeiro desta terra aqui
do pampa era São Miguel. Mandava na chuva, no vento, na geada. Na neve, se
fosse o caso. Foi no tempo em que os castelhanos eram donos, mandavam e
desmandavam na indiada toda. Ainda está lá, para quem quiser ver, o que sobrou
da igreja de São Miguel das Missões, uma senhora igreja.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Acontece que um tempo depois
chegaram os portugueses pelo lado do mar e botaram São Pedro de padroeiro, o São
Pedro do Rio Grande. E foram avançando, e avançando, até tomar a terra toda dos
castelhanos. E deram, a essa terra toda, o nome de Continente do Rio Grande de
São Pedro. Depois, muito depois, é que mudou para Rio Grande do Sul.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> São Pedro, todo mundo sabe, é o dono
das chaves do céu. Nuvens, vento, chuva, é tudo controlado por ele. O pobre do
São Miguel ficou sem o pedaço de mando dele no céu, igual aos castelhanos que
perderam o mando na terra. Aí, numa boa, São Pedro autorizou São Miguel a
mandar uma chuva por ano, que era para ser a chuva de São Miguel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Então, contam, São Miguel aproveita
para tirar o atraso. Manda chuvaradas e chuvaradas, quase sempre aí pelo fim de
setembro, perto do dia dele, que é o dia 29. Por isso é que elas ficaram
conhecidas por esse nome de enchente de São Miguel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> De uns tempos para cá, a data não é
muito respeitada, mas a enchente de São Miguel acontece sempre: seis meses
antes ou seis meses depois, mas acontece.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Contam que é assim, eu não sei se é.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-3882094900889411882015-09-21T09:23:00.002-07:002015-09-21T09:23:46.646-07:00RESPOSTAS AOS CURIOSOS<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Aí vão respostas para perguntas que me são
feitas com frequência:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">1.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quem
sou? Para ser franco, nem eu sei bem quem é o escritor José Clemente Pozenato.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">2.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando
comecei? Comecei a escrever, ou a acreditar que podia escrever, quando descobri
que podia escrever melhor do que alguns escritores que eu lia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">3.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Qual
a obra preferida? Cada obra teve um gosto especial; gostei de escrever cada uma
delas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">4.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Momento
marcante? Certamente foi a indicação do filme O Quatrilho, baseado em meu
romance, para o Oscar, em 1996. Ficou na história!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">5.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Onde
a inspiração? Minha inspiração vem do que eu observo no comportamento das
pessoas. Olho, olho, ouço, ouço e depois invento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">6.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como
escrevo? Escrevo para todos entenderem. Uns entendem mais, outros menos, mas na
vida também é assim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">7.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Poesia,
conto, romance? Me dou bem tanto com a poesia como com o romance e o conto. Há
coisas que dá para dizer com a poesia. Outras só com um romance.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">8.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Há
escritores bons? Há muita gente escrevendo bem. Uma vez havia quatro ou cinco
que se destacavam, era mais fácil. Hoje a “concorrência” é maior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">9.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como
ser escritor? Gostar de escrever já é o primeiro passo. O segundo é estudar as
técnicas. Escrever também exige domínio técnico, que se aprende observando como
os bons escritores escrevem. Hoje existem as oficinas literárias, que ajudam
bastante.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri;">10.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> O desejo do autor? A maior satisfação do
escritor é ter leitores que têm curiosidade pelo que ele faz. Você, lendo o que
escrevo, me dá essa satisfação.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-48980401435707258812015-08-24T12:04:00.001-07:002015-08-24T12:04:44.672-07:00ONDULAÇÕES TRANSVERSAIS<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Saiu a
notícia de que a BR, no trecho em que atravessa a cidade vai ter, finalmente,
ondulações transversais. Esse é o termo técnico usado pelo CONTRAN para
designar os quebra-molas, ou lombadas. O curioso é que lá pelas tantas – na
mesma ordem de serviço, ou portaria, que regulamenta ditas ondulações
transversais – o órgão disciplinador do tráfego determina que seja fixada
sinalização com a palavra “saliência” ou a palavra “lombada”...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sei que
muita gente que anda de carro não gosta de quebra-molas, tanto que na cidade de
Caxias do Sul elas foram retiradas, alguns anos atrás. Em Galópolis, eles
continuaram (se não erro na conta são cinco ao todo), por decisão judicial
impetrada pelos moradores do lugar. E se não estou equivocado, não houve mais
nenhum atropelamento nesse trajeto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pois a
cidade de Caxias do Sul, com atropelamentos quase diários na BR, além de não
ter conseguido a mordomia das passarelas – que só beneficiam a Grande Porto
Alegre – estava proibida de ter até mesmo as prosaicas lombadas, ou quebra-molas,
ou saliências, ou ondulações transversais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As lombadas
só apresentam dois problemas: o de chegarem tarde e o de serem ainda em pequeno
número. Desde o tempo de Montaigne, o bom senso indica que as cidades existem
para as pessoas viverem nela, e não para serem atropeladas pelas carruagens.
Foram-se as carruagens com seu par de cavalos a galope, e entraram em cena
carros com dezenas de cavalos cada um, em louca disparada.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Bem vindas
as lombadas.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-23704227211181017312015-08-17T09:04:00.002-07:002015-08-17T09:05:24.894-07:00SEMANA DO PATRIMÔNIO<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Caxias do
Sul tem, a partir deste ano de 2015, de forma institucional, a Semana Municipal
de Valorização do Patrimônio Histórico e Cultural, criada a partir de Projeto
de Lei da Câmara de Vereadores. A data é fixa, de 13 a 20 de agosto, para
antecipar e prolongar o Dia do Patrimônio Nacional, hoje, 17 de agosto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quem lida na
identificação, preservação e valorização do patrimônio cultural – três etapas
indissociáveis entre si – sabe que se trata de uma luta inglória. Tenho na
bagagem várias lutas inglórias. Algumas terminaram com derrota completa, como a
do Cine Ópera. Outras não foram tão completas, mas trouxeram algum grau de
destruição do patrimônio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Já fui
chamado de saudosista, pecha infamante criada pela racionalidade progressista.
Já me foi dito que é “lei da natureza” que o antigo seja destruído para dar
lugar ao novo. Já ouvi ser chamada de “trambolho” a área da estação férrea,
onde Caxias nasceu como cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É realmente
muito difícil identificar, preservar e valorizar o patrimônio cultural e
histórico aqui em Caxias. Agora mesmo, nas obras de modernização da rua
Sinimbu, em nome do progresso e da mobilidade urbana, foi arrancada uma tira
inteira da calçada na frente da Metalúrgica Eberle. Ninguém se lembrou de que
essa calçada é tombada como patrimônio histórico. Ninguém deu bolas ao fato de
que são pedras portuguesas, desenhando engrenagens que são parte desse
patrimônio da cultura industrial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por isso, neste
Dia Nacional do Patrimônio, mais uma vez, só tenho vontade de chorar.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-2399616187351576272015-08-10T08:40:00.001-07:002015-08-10T08:41:15.722-07:00O TALIAN NO MUSEU?<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Começo
relatando um fato não muito divulgado. Meu último trabalho de pesquisa na
Universidade, antes de ser jubilado, foi ter elaborado e coordenado o projeto
para encaminhar o registro do Talian como língua de imigração, um projeto
piloto no Brasil, patrocinado pelo Ministério da Cultura. Como não sou
linguista, criei uma equipe técnica de especialistas para realizar o trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O êxito do
trabalho foi total: em novembro de 2014, o Instituto Nacional do Patrimônio
Histórico e Artístico – IPHAN – acolheu o pedido e o Talian foi reconhecido
oficialmente como integrante do patrimônio linguístico brasileiro, na categoria
das línguas de imigração. A primeira a chegar ao pódio! Uma vitória tanto mais emocionante
quanto mais se sabe a restrição que essa língua teve no passado, levando-a à
beira da extinção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Agora
confesso que me assalta outro temor: o de o Talian ser considerado por pesquisadores
linguísticos como uma peça arqueológica, que deve ser guardada, bem limpinha e
atrás de um vidro inquebrável para ninguém tocar, dentro de um museu.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">E a ideia
não é essa. A ideia, ao tornar o Talian patrimônio nacional, é pô-lo de volta
nas ruas, nas casas, nos meios de comunicação. É claro que um pouco de pó e de
barro ele vai pegar. Mas isso acontece com todas as línguas vivas. Portanto,
quanto mais pessoas tiverem interesse, mesmo comercial, em promover e divulgar
o Talian, melhor. Elas estarão contribuindo para manter viva essa língua, agora
patrimônio de todos, não só dos laboratórios.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-68524155438370684702015-08-03T09:38:00.001-07:002015-08-03T09:38:35.774-07:00UNIVERSIDADE DE BUCARESTE<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tive o
prazer de passar quase uma semana na Universidade de Bucareste, participando de
um evento na área de Comunicação. A Faculdade de Jornalismo e Ciências de
Comunicação foi a primeira criada pela Universidade assim que caiu o regime
soviético, e está comemorando 25 anos. O encontro aconteceu no prédio da
Faculdade de Direito, o mais antigo da Universidade, erguido em 1857, um
verdadeiro monumento arquitetônico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A
Universidade teve três fases em sua história. A primeira começa em 1864, quando
é criada, juntando as Faculdades de Direito, de Letras e de Ciências e vai até
1944, quando a Romênia é incorporada à União Soviética. A segunda fase inicia
com essa incorporação e vai até a queda do Muro de Berlim, em 1989. De lá para
cá vive ela sua terceira fase, com um lema muito significativo: Cultura e
Descobrimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nestes
últimos 25 anos o empenho vem sendo o de recuperar espaços e ganhar avanços que
foram limitados pelas autoridades comunistas. Começaram mudando o nome de
Universidade de Bucareste para o de Academia do Povo da República Romena.
Fecharam três Faculdades: a de Teologia, a de Filosofia e a de Ciências
Sociais... E abriram as Faculdades de Química e de Física.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 1989, “após
abusiva desestabilização de departamentos e faculdades”, conforme consta do
catálogo atual da Universidade, havia apenas 6 faculdades e menos de 8 mil
estudantes. Hoje ela se gloria de ter 19 faculdades, mais de 32 mil alunos e 3
mil professores. Dados todos que podem ajudar a pensar...<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-2704240066082204662015-07-27T10:41:00.002-07:002015-07-27T10:41:50.703-07:00PÃO BRANCO<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Dr. Couty, um francês, esteve no
Rio de Janeiro, trazido por D. Pedro II, para ser professor de “biologia
industrial”. Couty não era apenas um naturalista curioso da flora e fauna
brasileiras: via os recursos biológicos em perspectiva econômica, ou
industrial, como ele denominava seu foco de estudo. Para fazer uma avaliação de
nosso país a esse respeito, percorreu o Brasil de ponta a ponta, do Piauí ao
Rio Grande do Sul.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nos relatórios que publicou numa
revista francesa, o Dr. Couty faz uma análise detalhada dos hábitos alimentares
do povo: o que se comia e como era preparada a comida. E até mesmo que gosto
tinha, porque o Dr. Couty provou desde o angu e a feijoada, no Norte, até a
carne seca e a erva-mate aqui no Sul. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Surpresa para ele foi descobrir que o
pão não fazia parte dos hábitos alimentares do povo. Os pratos de resistência
eram, pela ordem, o angu, o feijão, a mandioca. Chama a atenção para o fato de
que o Brasil, ao contrário da Argentina, não cultivava o trigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O relatório é de 1881, o que
significa que o Dr. Couty não chegou a conhecer o plantio de trigo que começava
nas colônias italianas. O cultivo do trigo foi uma das colunas mestras da
economia local e a introdução do moinho a cilindro, iniciada por Germani,
permitiu que se produzisse farinha de trigo de primeira qualidade no país.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Essa história revela o quanto o sonho
do camponês italiano, que veio para cá sonhando em ter pão branco na mesa, foi
capaz de desenvolver no Brasil uma cultura do pão, que não existia.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-48341342121163276652015-07-20T07:56:00.000-07:002015-07-20T07:56:54.150-07:00A CULTURA INDUSTRIAL<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A Unesco tem estimulado
a que se preserve o que ela designa de “Patrimônio cultural imaterial da
indústria”. Ele se insere no tema da Memória do Trabalho, que tem sido até
agora valorizada quase que somente no campo do artesanato e dos ofícios
individuais de mestres no domínio de determinadas técnicas. Os saberes da
indústria não são menos ricos – acrescidos que em quase todos eles há uma soma
de saberes coletivos – e, com o fim da era industrial, a que estamos assistindo,
correm grande risco de desaparecimento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nesse âmbito, há um
leque muito grande de temas para pesquisa e ações de preservação, especialmente
num ambiente tão rico nesse patrimônio como é Caxias do Sul. Diversas dessas
ações estão em andamento na cidade, algumas já visíveis, outras ainda em
processo de gestação. O trabalho que vem sendo feito em Galópolis está dentro
dessa linha de preocupação. Aí pode ser revisitado, como se fosse um museu ao
ar livre, o ambiente visual de uma pequena cidade totalmente organizada para o
funcionamento de uma indústria. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 14pt; line-height: 115%; text-align: justify;">Outro espaço que vem
atraindo a atenção e provocando estudos e debates é o da Maesa, que teve um período áureo em
Caxias do Sul e região. Há muitas propostas para a sua utilização. A mais
ouvida nas ruas é de que funcione ali um Mercado Público. Uma ideia plausível,
com certeza. Mas o que não pode faltar ali é o resgate do “patrimônio imaterial
da indústria”, como quer a Unesco, que tem patrocinado projetos nesse sentido.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-43941987381019517072015-07-13T08:32:00.002-07:002015-07-13T08:32:56.681-07:00TRIGO E MILHO<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A primeira imagem da Romênia, quando o avião desceu no
aeroporto de Bucareste, foi a de uma planície de trigais recém-colhidos, a
perder de vista. Entre eles, tiras de cor verde que, mais perto do chão, deu
para ver serem plantações de milho. São as duas culturas principais dos campos
romenos. No início do verão é colhido o trigo e plantado o milho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Resultado disso é que, nas mesas de Bucareste, o pão é
excelente, e a polenta faz parte dos melhores cardápios. Uma polenta igual à
que se faz aqui, com aquela farinha grossa herdada dos moinhos de mós de pedra,
e a textura macia que ela tem antes de ser frita ou assada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas a Romênia impressiona em muitos outros sentidos. Duvido
que haja no mundo cidade com parques tão numerosos, tão grandes e tão bem
cuidados. Outro detalhe surpreendente: no espaço entre a calçada e os prédios,
atrás das cercas, não há gramados cultivados como por aqui. Cresce ali uma
vegetação espontânea e silvestre, com toda variedade de abelhas, besouros, insetos
e cogumelos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Bucareste surpreende mais ainda pelo tipo de cultura vivido
na cidade. A România fundada pelo imperador Adriano foi depois território
eslavo, assumiu o alfabeto cirílico, depois o substituiu pelo alfabeto latino.
Procurou ser uma pequena Paris, “Picul Paris”, ficou sob a foice e o martelo do
final da Segunda Guerra até a queda do muro de Berlim. Traços dessa trajetória
são bem visíveis. Eu já gostava da literatura romena. Agora aprendi a gostar dessa
terra de fronteiras, reais e imaginárias.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-85150999938991511112015-06-22T12:52:00.000-07:002015-06-22T12:52:46.976-07:00SAUDOSISTAS?<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A cada vez
que se esboça na cidade um projeto, ou uma simples intenção, de preservar algum
elemento do patrimônio cultural, seja no plano das coisas materiais, seja das
imateriais, não falta quem diga, contrariado: “são uns saudosistas...”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Saudosismo
pode ser uma palavra de conteúdo positivo. Saudade é um sentimento que ninguém
contesta. Mas não é com esse significado que são carimbados os que defenderam o
Cine Ópera, os que lutam pelo tombamento de prédios e sítios históricos, os que
insistem em que a língua Talián volte a ser cultivada, os que querem o desfile
da Festa da Uva no seu cenário histórico. Nesses casos, ser chamado de
saudosista significa ser acusado de inimigo do progresso. Como se não fosse
possível conciliar progresso com respeito ao passado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O grande mal
das inteligências é o maniqueísmo, maneira de
pensar que é incapaz de cogitar
alguma composição de termos opostos, como entre o passado e o presente. Hoje o
maniqueísmo é mais conhecido pelo nome de radicalismo, que divide o mundo entre
o certo do lado de cá e o errado do lado de lá, como se isso fosse possível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Gosto de
dizer que sou radical somente em um ponto. Sou radicalmente contra os
radicalismos de qualquer espécie. Fosse eu radical, diria que os que não aceitam
preservar nada do patrimônio do passado são iconoclastas que merecem a fogueira,
a mesma em que destroem o patrimônio, como o do Cine Ópera. Mas não sou de
extremos. Só defendo que manter a memória do passado é a base da saúde social.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-64679151334022885842015-06-15T09:22:00.002-07:002015-06-15T09:23:10.755-07:00CULTURA DA IMIGRAÇÃO – 3<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Carlin
Fabris foi morador de Conceição da Linha Feijó e deixou escrita uma “Istoria de
Conceição” (sic), que é uma fonte inesgotável a ser explorada para ajudar a
entender como se deu a aculturação do imigrante italiano no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Logo de início,
Carlin Fabris, referindo-se à chegada dos imigrantes, faz a seguinte frase:
“vieram para ter progresso e grandeza nesta nova pátria, nesta bendita terra do
Cruzeiro do Sul Brasil”. É uma frase nitidamente com sabor de linguagem escolar,
voltada para ensinar às crianças o sentimento patriótico. O interessante é que
Carlin Fabris projeta essa visão do ideário republicano para o passado, como se
quem saiu da Itália tivesse como projeto contribuir para o progresso e a
grandeza do Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por trás
dessa projeção há, contudo, um dado concreto: o fato de a geração de Carlin
Fabris, uma ou duas gerações depois da imigração, ter incorporado essa
ideologia do progresso, de origem republicana, como ideologia também do
processo histórico ocorrido na região de colonização italiana. Ou seja, ao
contrário do que temiam os nacionalistas ferozes dos anos de 30 e 40, o
imigrante italiano estava totalmente imergido na nacionalidade brasileira.</span><br />
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Alguma provável exceção não é suficiente para algumas generalizações discriminatórias
que foram feitas. Isto é, e me repetindo, não houve um projeto de criar uma
cultura italiana no Brasil. O que houve foi a criação de uma cultura da
imigração italiana, dentro de um processo normal nessa circunstância.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-83214948126377730472015-06-08T08:34:00.002-07:002015-06-08T08:35:14.062-07:00CULTURA DA IMIGRAÇÃO – 2<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Voltando ao
tema da semana passada, sobre como aqui se construiu uma “cultura da imigração
italiana”, e não, simplesmente, se transplantou uma “cultura italiana”, veja-se
como se transformaram as relações de vizinhança. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A experiência
vivida nas regiões de emigração, com poucas exceções, era a de uma
vizinhança próxima, em pequenas aldeias
– os <i>paesi.</i> De sua casa na aldeia, o
agricultor se dirigia para as terras de cultivo que, note-se, nem eram de sua
propriedade. Aqui, o regime de colônias, com propriedades familiares acima de
20 hectares, obrigava o imigrante italiano a residir na propriedade. Com isso,
os vizinhos mais próximos já não estavam ao lado, mas a meio quilômetro, a um
quilômetro de distância, separados ainda, muitas vezes, pela floresta e por
caminhos quase intransitáveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não é
difícil de imaginar o quanto as relações de vizinhança, fundamentais para toda
organização humana, se modificaram nesse cenário. No dia a dia, cada família
vivia isolada nos seus afazeres. Para o encontro de vizinhos, diferente do que
ocorria na Itália, seria necessária a criação de ocasiões especiais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>filó,</i> que já na Itália existia como
reunião de vizinhança e lazer, mudaria em parte, aqui, sua função. Passaria a
ser também um encontro de apoio mútuo, talvez, principalmente, como conforto
psicológico para o isolamento em que cada família vivia. Mais uma vez, não
houve o puro e simples transplante de um costume, mas a sua reinvenção em vista
de novas necessidades.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-7887375290890524982015-06-01T08:01:00.002-07:002015-06-01T08:02:11.572-07:00CULTURA DA IMIGRAÇÃO<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É bastante
comum ouvirmos a expressão “cultura italiana no Rio Grande do Sul”. Na realidade, não existe uma “cultura italiana”
entre nós, mas uma “cultura da imigração italiana”, construída com a herança
trazida de além-mar mais o patrimônio encontrado aqui, da língua à comida, das
crenças aos métodos de trabalho e aos costumes da vida em sociedade..<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A primeira
escolha de quem emigra é ter de selecionar o que irá manter e o que irá
abandonar da sua cultura de origem. Vamos tomar o exemplo mais perto do chão, o
das técnicas de cultivo. Os imigrantes italianos, pela prática e pela
observação, sabiam como plantar, cultivar e colher o trigo, o milho, o feijão,
as batatas. Mas ter de cultivar um terreno coberto de árvores gigantescas, onde
vivem animais e insetos desconhecidos, obrigou à adoção e à descoberta de novas
práticas agrícolas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Paolo
Rossato, em suas cartas aos parentes, descreve em minúcia a derrubada do mato,
a queima, a capina no meio das toras que ficam inteiras, apodrecendo, o plantio
do milho: “quatro ou cinco grãos por cova, à distância de um metro uma da
outra”. Dá ainda detalhes de como matar as formigas, de como e onde cultivar as
videiras, das ferramentas usadas para o trabalho: tudo diferente do que era na
Itália!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Só nas
atividades menos condicionadas pelo ambiente físico os costumes foram sendo
mantidos sem maiores mudanças. Entre eles, os da cultura do comer, que também
foi reinventada aqui, não por vontade mas por necessidade. Uma inovação dentro
da tradição.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-54268252756483800572015-05-25T12:31:00.001-07:002015-05-25T12:32:12.857-07:00DIZER “NÃO”<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando
Geraldo Vandré, num Festival Brasileiro da Canção dos anos dourados, que era o
outro lado dos anos de chumbo, cantou “Disparada” com aquele verso “Aprendi a dizer ‘não’” a
plateia presente entrou em delírio. Foi em 1966, na Record. Nada a estranhar,
portanto: cantor e público pertenciam à mesma geração da frase “é proibido
proibir”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Agora saiu
em livro uma pesquisa, de Tania Zagury, que investigou a geração de pais da época de
“Disparada” e descobriu um dado impressionante: os pais, que se vangloriavam de
ter aprendido a dizer “não”, foram incapazes de dizer “não” para os filhos.
Resultado: filhos inseguros, incapazes de aceitar críticas e de rever as
próprias posições. Uma geração que tende a achar que está sempre certa e a
assumir posições dogmáticas, fundamentalistas, radicais. A geração que vem
depois dessa é tão irresponsável que deixa os filhos para os avós cuidarem. E
acham que é o certo. Tudo isso está na pesquisa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Bem, esse é
o extremo a que se está chegando, o de não aceitar um “não” de ninguém. Isso me
faz lembrar outro extremo. Em 1934, quando o balão dirigível Graf Zeppelin
sobrevoou Porto Alegre e redondezas, com seus 236 metros de comprimento, ele
passou também por São Leopoldo. O Padre Reus, sim, o Padre Reus, estava dando
aula no colégio dos jesuítas. Alguns alunos tentaram ir à janela para ver o
Zeppelin e ouviram um sonoro “Não!” do Padre Reus: “Aula é aula, voltem para os
lugares!”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que eu
penso disso? Cada um faça a filosofia que achar melhor. <o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-21480195012912442682015-05-18T10:00:00.001-07:002015-05-18T10:01:24.537-07:00ELOY LACAVA<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Comemoram-se
nesta semana os 140 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos na
localidade de Nova Milano, então sede da colônia – que por iniciativa política
de Feijó Junior teria local e nome mudados para a depois Colônia Caxias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É uma data
em que voltam à tona lembranças, acontecimentos, registros e monumentos. Mas,
sobretudo, é uma data que chama a atenção nacional para a contribuição dos
imigrantes na construção da identidade brasileira, sem repetir a “balela das
três raças fundadoras”, como apostrofou o antropólogo Roberto Da Matta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A data é
também oportuna para revisitar a literatura produzida tendo essa experiência
imigratória como tema. Ela é bem maior e mais sortida do que supõe a vã
filosofia da pressa de nosso tempo. Para começar, trago à tona o nome de Eloy
Lacava, submergido, ao que parece, em quase total esquecimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eloy Lacava
publicou em 1986 o romance “Arrivederci
no Paraíso”, pondo as duas línguas no título para caracterizar a passagem de um
lado para outro do mundo. A narrativa põe em cena um casal de imigrantes que
sai de Montebelluna para a aventura de começar vida nova aqui na Colônia
Caxias. Um ano depois, Lacava publicou outro romance, com o título de “Vinho
Amargo”, centrado nos acontecimentos da
revolução de 1923.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eloy Lacava
mistura ficção com fatos e nomes reais, jornalista que foi a vida inteira. Mas
sabe construir cenas do cotidiano e penetrar no interior das motivações. E expor
os conflitos políticos, nunca resolvidos, dos “colonos” com a ideologia dominante.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8269278868859339503.post-60048378047811691412015-05-11T15:55:00.003-07:002015-05-11T15:55:58.101-07:00GOSTO DE UVA<!--[if gte mso 9]><xml>
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<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quem vem de
fora, como eu, acaba descobrindo na cidade de Caxias do Sul coisas e sabores
que quem nasceu e viveu sempre dela às vezes não percebe. Mais uma prova disso
é o livro que acaba de ser lançado, com o título de “Isabella em Contos”, da
autoria de Luiz Carlos Ponzi. Ele nasceu em Guaporé antes de fazer de Caxias a
sua cidade. Não apenas como seu habitante, mas deixando-se penetrar dela em
todos os sentidos, físicos, emocionais e mentais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ponzi já
havia dado a público, em 2002, uma história do Bar Treze, um local que fez
história como ponto de encontro para passar tempo e para fazer política.
Principalmente fazer política. Agora seu olhar atento elabora uma coletânea de
onze<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>quadros – de ficção desta vez –
mostrando uma cidade com o nome de Isabella, homenagem à “uva Isabella”, entre
os anos de 1905 e 2005: uma narrativa para cada início de nova década.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um tom bem
humorado percorre cada um dos contos, dando uma das dimensões subjacentes à
cultura desta cidade: a vontade de rir de tudo, principalmente de si própria. O
autor inventa até uma história em que Luiz Carlos Prestes desembarca em
“Isabella” onde, como diz o título do conto “a revolução do proletariado se
atrapalha”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nesse
sentido, “Isabella em Contos” filia-se a uma das obras fundadores da literatura
local, “Pesos e Medidas”, do saudoso Ítalo Balen, em que a crônica dos fatos
vem o tempo todo perpassada de riso. O que é muito bom. Rabelais já nos
mostrava que quem não sabe rir não sabe também viver.</span></div>
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