segunda-feira, 4 de maio de 2015

COISAS DE HOSPÍCIO

Acabo de ler um livro que foi editado em 2013 e em dezembro de 2014, pouco mais de um ano depois, chegava à 12ª edição. O livro se intitula “Holocausto Brasileiro” e sua autora é a jornalista Daniela Arbex. O tema é a história de um hospício, na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. O título dado à obra faz sentido: praticou-se nele um extermínio semelhante ao dos campos de concentração nazistas, com mais de 60 mil mortos.
Lendo essa história terrível, veio-me à mente um quadro de informações que tive em mãos quando escrevi o romance “A Cocanha”. O Hospício São Pedro, em Porto Alegre, inaugurado em 1884, foi o destino de muitos imigrantes italianos. Alguns perdiam o juízo, como se dizia, ou entravam  em depressão, como se diria hoje, diante das enormes dificuldades que tinham de enfrentar para sobreviver. Mas a maioria dos que eram lá internados era de viciados em bebidas alcoólicas – também um recurso para se evadir dos problemas – com o diagnóstico técnico de “psicose hetero-tóxica”.  No período que vai até 1900, cerca de quatrocentos imigrantes foram piedosamente encaminhados ao São Pedro, por intermediação das autoridades das colônias e por padres, em nome da paz das famílias.
No meu romance cuidei de não ocultar esse tipo de problema sem, no entanto, carregar nas tintas. Procurei ficar no limite para não fazer uma narrativa de glorificação de heróis que não existiram nem, no outro extremo, desfilar situações de desgraça que de fato existiram. Ainda hoje acho que fiz bem.

0 comentários:

Postar um comentário