terça-feira, 6 de outubro de 2015

“DANOS COLATERAIS”

Depois de os ianques bombardearem um hospital no Afeganistão – atendido pela organização humanitária Médicos sem Fronteiras, deixando mortos enfermeiros e pacientes, entre eles três ou quatro crianças – o porta-voz do exército americano declarou que se tratava apenas de um caso de “danos colaterais”.
“Danos colaterais” é o que mais tem marcado as invasões justiceiras dos Estados Unidos. Outro dia circulou pelas agências de notícias, em tom de escândalo, que o Estado Islâmico “já” matou mais de três mil pessoas. E quantos civis os Estados Unidos mataram só na invasão do Iraque, baseada num pretexto sem fundamento? Quase cem mil. E não me lembro de que esse número tenha sido martelado na mídia.
Cada monumento antigo demolido pelos islamitas ganha destaque. Um destaque nunca feito quando os aviões americanos destruíram quase todo o imenso patrimônio cultural de Bagdá. Isso também foram “apenas danos colaterais”, justificáveis pela missão dos que se investem em salvadores do mundo.
Esse meu sentimento de repúdio não é de hoje. Revendo as gavetas, encontrei um poema que escrevi em 1963, nunca publicado, quando os americanos diziam nos ajudar com a “Aliança para o Progresso”. O poema começa assim:
Eu vou falar a verdade / do americano do norte. /Que ninguém ache meu verso / pesado ou muito forte. // Eles são muito sabidos / para fazer tapeação / se fingem de inocentes / e devoram sem perdão.

Metade de um século depois, minha opinião continua exatamente a mesma.

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