Quando
Geraldo Vandré, num Festival Brasileiro da Canção dos anos dourados, que era o
outro lado dos anos de chumbo, cantou “Disparada” com aquele verso “Aprendi a dizer ‘não’” a
plateia presente entrou em delírio. Foi em 1966, na Record. Nada a estranhar,
portanto: cantor e público pertenciam à mesma geração da frase “é proibido
proibir”.
Agora saiu
em livro uma pesquisa, de Tania Zagury, que investigou a geração de pais da época de
“Disparada” e descobriu um dado impressionante: os pais, que se vangloriavam de
ter aprendido a dizer “não”, foram incapazes de dizer “não” para os filhos.
Resultado: filhos inseguros, incapazes de aceitar críticas e de rever as
próprias posições. Uma geração que tende a achar que está sempre certa e a
assumir posições dogmáticas, fundamentalistas, radicais. A geração que vem
depois dessa é tão irresponsável que deixa os filhos para os avós cuidarem. E
acham que é o certo. Tudo isso está na pesquisa.
Bem, esse é
o extremo a que se está chegando, o de não aceitar um “não” de ninguém. Isso me
faz lembrar outro extremo. Em 1934, quando o balão dirigível Graf Zeppelin
sobrevoou Porto Alegre e redondezas, com seus 236 metros de comprimento, ele
passou também por São Leopoldo. O Padre Reus, sim, o Padre Reus, estava dando
aula no colégio dos jesuítas. Alguns alunos tentaram ir à janela para ver o
Zeppelin e ouviram um sonoro “Não!” do Padre Reus: “Aula é aula, voltem para os
lugares!”
O que eu
penso disso? Cada um faça a filosofia que achar melhor.