Voltando ao
tema da semana passada, sobre como aqui se construiu uma “cultura da imigração
italiana”, e não, simplesmente, se transplantou uma “cultura italiana”, veja-se
como se transformaram as relações de vizinhança.
A experiência
vivida nas regiões de emigração, com poucas exceções, era a de uma
vizinhança próxima, em pequenas aldeias
– os paesi. De sua casa na aldeia, o
agricultor se dirigia para as terras de cultivo que, note-se, nem eram de sua
propriedade. Aqui, o regime de colônias, com propriedades familiares acima de
20 hectares, obrigava o imigrante italiano a residir na propriedade. Com isso,
os vizinhos mais próximos já não estavam ao lado, mas a meio quilômetro, a um
quilômetro de distância, separados ainda, muitas vezes, pela floresta e por
caminhos quase intransitáveis.
Não é
difícil de imaginar o quanto as relações de vizinhança, fundamentais para toda
organização humana, se modificaram nesse cenário. No dia a dia, cada família
vivia isolada nos seus afazeres. Para o encontro de vizinhos, diferente do que
ocorria na Itália, seria necessária a criação de ocasiões especiais.
O filó, que já na Itália existia como
reunião de vizinhança e lazer, mudaria em parte, aqui, sua função. Passaria a
ser também um encontro de apoio mútuo, talvez, principalmente, como conforto
psicológico para o isolamento em que cada família vivia. Mais uma vez, não
houve o puro e simples transplante de um costume, mas a sua reinvenção em vista
de novas necessidades.
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