Lidar com as
palavras parece fácil. Até a gente descobrir que pode não ser tão fácil como
parece. Uma simples mudança de lugar de uma delas, na frase, pode mudar todo o
sentido do que se pretende dizer. É lendo diferentes autores, de diferentes
estilos, de diferentes épocas, até mesmo de línguas diferentes, que se descobre
como é possível armar, com toda sutileza, e com grande economia verbal,
pequenas surpresas. Quem não faz isso, erra sem nem perceber.
Para mostrar
isso aos alunos, colocava diante deles, para que vissem alguma diferença de
significado, as seguintes quatro frases, todas com as mesmas palavras: 1) também
a gente anda a pé, 2) a gente também anda a pé, 3) a gente anda também a pé, 4)
a gente anda a pé também.
A
brincadeira consumia às vezes uma aula inteira, dependendo da agilidade da
turma. Se o leitor quiser entrar na roda, vai ver que nenhuma delas coincide
exatamente com o sentido das outras. É a palavrinha “também” – que pode ser advérbio ou
conjunção, é bom estar atento - que põe a bailar as outras.
Um dia o
professor é quem foi surpreendido. Depois de terminado o exame de cada uma das
sequências, um aluno levantou o dedo, com ar compenetrado, e falou:
- Professor,
dá para fazer outra montagem com essas palavras. É só transformar o “também”
numa interjeição. Bom, para isso é preciso acrescentar uma vírgula. E fica
melhor colocando um ponto de exclamação no fim.
A turma
inteira ficou em suspense. Ele então completou, triunfante:
- Também, a
gente anda a pé!
0 comentários:
Postar um comentário