segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

TAMBÉM...

Lidar com as palavras parece fácil. Até a gente descobrir que pode não ser tão fácil como parece. Uma simples mudança de lugar de uma delas, na frase, pode mudar todo o sentido do que se pretende dizer. É lendo diferentes autores, de diferentes estilos, de diferentes épocas, até mesmo de línguas diferentes, que se descobre como é possível armar, com toda sutileza, e com grande economia verbal, pequenas surpresas. Quem não faz isso, erra sem nem perceber.
Para mostrar isso aos alunos, colocava diante deles, para que vissem alguma diferença de significado, as seguintes quatro frases, todas com as mesmas palavras: 1) também a gente anda a pé, 2) a gente também anda a pé, 3) a gente anda também a pé, 4) a gente anda a pé também.
A brincadeira consumia às vezes uma aula inteira, dependendo da agilidade da turma. Se o leitor quiser entrar na roda, vai ver que nenhuma delas coincide exatamente com o sentido das outras. É a palavrinha  “também” – que pode ser advérbio ou conjunção, é bom estar atento - que põe a bailar as outras.
Um dia o professor é quem foi surpreendido. Depois de terminado o exame de cada uma das sequências, um aluno levantou o dedo, com ar compenetrado, e falou:
- Professor, dá para fazer outra montagem com essas palavras. É só transformar o “também” numa interjeição. Bom, para isso é preciso acrescentar uma vírgula. E fica melhor colocando um ponto de exclamação no fim.
A turma inteira ficou em suspense. Ele então completou, triunfante:

- Também, a gente anda a pé!

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