Ninguém mais
lembra, mas fui candidato a deputado federal. Eu ainda lembro porque foi uma
experiência impossível de ser esquecida. Aprendi tanto sobre o que ocorre atrás
dos panos da política eleitoral que cheguei a começar a escrever um romance com
o título de O Candidato. Fiquei na primeira página, já digo por que.
Para fazer a
campanha é preciso dinheiro. Para que? Numa festa em São Chico, os possíveis
eleitores cobravam do candidato uma rodada de cerveja, que o candidato não
pagou. Noutra festa em Vacaria a conta apresentada, e também não paga, era a da
carne toda do churrasco. Em Caxias um grupo de migrantes que ia votar em outro
município trocava os votos de todos pelo pagamento de ônibus e almoço para os
passageiros. Noutra cidadezinha, um cabo eleitoral garantia até 300 votos, com
uma “ajuda” de 25 reais por voto. Basta isso de amostra.
A
culminância foi a oferta recebida, pelo tesoureiro da campanha, de um
“consórcio” de empresas de serviços urbanos: doavam até um milhão de reais com
uma condição, a de assinar recibo em dobro do valor recebido. O candidato não
aceitou e decidiu terminar ali mesmo sua campanha, que tivera o pequeno auxílio
de três empresas.
O candidato
não se elegeu, é óbvio, mas viu confirmada a frase do antropólogo Roberto da
Matta: “O político no Brasil é corrupto porque o eleitor é corrupto”.
Não
continuei o romance planejado também por uma razão óbvia: por mais que usasse a
imaginação, não chegaria aos pés das histórias fantásticas que todos estão
acompanhando.
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